Sunday, April 13, 2008

Contribuições para a pesquisa em ELMC

CHAPELLE, Carol A. Computer-assited SLA research. In: Computer Applications in Second Language Acquisition: foundations for teaching, testing and research. Cambridge University Press.

O texto de Chapelle apresenta uma discussão acerca da pesquisa concernente ao avanço dos estudos da aprendizagem de uma segunda língua assistida pelo computador. Em princípio, cabe ressaltar que a aprendizagem assistida pelo computador já tem encontrado outras significações, em função das modificações havidas na própria concepção do ensino à distância e da relação professor-aluno resultante disto.

A fim de basear suas considerações, a autora argumenta a partir de alguns autores, principalmente Doughty (1992). Pelo que considera em suas citações, o processo de aprendizagem de uma segunda língua tendo o computador por ferramenta (haja vista que vê-lo como mero tutor ou mediador já é uma abordagem superada pelas considerações pedagógicas supra referidas) é um processo que envolve a pesquisa em termos de tecnologia e design, o que faz com que a pesquisa não negligencie os aspectos da motivação, o que, evidentemente, não se encerra na própria tecnologia, mas nos processos. Os pilares fundamentais de Doughty (1992) são: design, descrição e descoberta, pelo que:
o design trata do próprio ambiente metodológico-pedagógico de tarefas (tasks) que coloca o estudante em contato com a aprendizagem de uma segunda língua;
a descrição possibilita uma organização de dados em cuja base estão os aspectos de identificação, tabulação e organização – o que garante a uma pesquisa informações sobre as quais podem ser atribuídos vários sentidos;
a descoberta é justamente o uso do computador para uma análise estatística dos dados.

À proporção que o texto evolui, a autora apresenta exemplos vários relativos ao processos de aprendizagem dito acima. Façamos destaque para um deles – o de Robinson (1996), em cujas pesquisas foram estabelecidas quatro condições de instruções acerca dos métodos de apresentação dos estudantes:
uma condição implícita, que requeria dos estudantes uma memorização de sentenças que continham estruturas gramaticais relevantes;
uma condição incidental, que requeria dos estudantes uma leitura de sentidos nas sentenças;
uma condição de seguir a ordem, que requeria dos estudantes uma identificação das regras nas sentenças e
uma condição instruída, que dava aos estudantes regras explícitas desde o ponto de vista gramatical.

Outro autor citado é Hulstijn (1997) que faz uma distinção entre dois tipos de estudos do ponto de vista da pesquisa nesse determinado campo, a saber:
estudos laboratoriais sobre as teorias da aprendizagem de uma segunda língua e
estudos aplicados a partir de investigações do aprendizado de línguas mediado por computador.

Ambos de encontram em um conjunto de estudos sobre a pesquisa em termos da aprendizagem de uma segunda língua tendo o computador como ferramenta.

Ainda segundo Hulstijn (1997), os pesquisadores formulam, corretamente, as condições operacionais teorizadas a fim de produzir efeitos particulares, nos quais os estudantes participam de forma a possibilitar uma comparação com os diferentes níveis de aprendizagem.

A autora apresenta ainda uma tabela de critérios para as atividades de pesquisa, conforme exposto abaixo:
Operacionalização das condições de aprendizagem;
Generalizações;
Nível de dificuldade;
Impacto e
Praticabilidade.

Cada um desses critérios é adequadamente demonstrado no decorrer do texto. A título de demonstração, podemos afirmar que os critérios vão variando de um ponto teórico (operacionalização) até um outro prático (praticabilidade).

A pesquisa no campo do uso do computador para a aprendizagem de línguas encontra, em laboratórios específicos, um lugar privilegiado de medição dos avanços e retrocessos dos métodos. Uma prática de tal forma elaborada que não se pode deixar de considerar que ela se torna em algo um tanto mais distante em termos relacionais. Parece que, gradativamente, a educação on line vai perdendo seu espaço político para delinear-se em um espaço exclusivamente técnico. Há que se questionar. As bases da pesquisa estão fixadas nos pressupostos empíricos sobre o sucesso e o fracasso da aprendizagem proposta.

Outras etapas aparecem em forma de tabela no texto. Não se trata de tabelas quantitativas, mas quadros explicativos dos passos que são propostos. Os passos se constituem como etapas. No entanto, não nos pareceu que se operam em termos comportamentais, de forma a permitir ao aluno uma ascensão no processo a partir da superação da etapa imediatamente anterior. Como quadros, eles funcionam como um mecanismo de visualização (design?), pelos quais o conteúdo textual se comunica em função de palavras organizadas de forma a tornar a leitura mais fluida. No entanto, os quadros são seguidos de explicações sobre os tópicos neles referidos. Vejamos abaixo:

Estratégias para a definição dos processos de aprendizagem de uma segunda língua:
Definição;
Medida;
Inferência e
Uso.

Merece destaque a etapa USO, que investiga as relações entre a preparação para em estágio cognitiva e a proficiência no uso da língua. Ora, presume-se que, em se verificando problemas entre um ponto e outro, haja espaço para o questionamento acerca do próprio processo de ensino e aprendizagem.

Em termos conclusivos, a autora considera que a pesquisa no campo da aprendizagem de línguas mediada por computador tende a oferecer condições reais para o progressos desse dispositivo pedagógico.


ESTABEL, L. B. SILVA MORO, E. L. SANTAROSA, L. M. A inclusão social e digital de pessoas com limitação visual e o uso das tecnologias de informação e de comunicação na produção de páginas para a Internet. Ciências da Informação, Brasília, v. 35, n. 1, p. 94-101, jan/abr. 2006.

O artigo ora referido trata de uma pesquisa em torno não dos processos de aprendizagem de uma segunda língua mediada pelo computador, mas das relações estabelecidas entre as pessoas mediadas pelo computador. As autoras se apóiam em um estudo de caso cuja finalidade proposta aos alunos era a produção de uma home page. A intenção era justamente a de verificar o quanto o computador poderia ser verificado como uma ferramenta facilitadora das abordagens que fazem emergir a subjetividade e uma conseqüente transformação social. Em função dessa abordagem, o trabalho relata a atividade do acesso e do uso das tecnologias de informação e de comunicação, tendo como sujeito uma pessoa com necessidades educacionais especiais na produção de páginas para a Internet.

Ao final da pesquisa – que não se refere a uma medição das práticas, mas a uma aplicação de teoria – as autoras privilegiaram a construção coletiva na superação das limitações, sejam do ponto de vista físico ou tecnológico. O artigo demonstra que, com a educação e o uso dos meios informatizados, é possível promover a inclusão social e digital de pessoas com necessidades especiais.



BITTENCOURT, Jane. Informática na educação? Algumas considerações a partir de um exemplo. Revista da Faculdade de Educação. V. 24, n. 1, São Paulo, jan/jun. 1998.

No artigo é discutida a problemática da informática na educação do ponto de vista epistemológico e didático, ou seja, de como o conhecimento é tratado em um recusro didático-pedagógico via computador. Aqui, as questões centrais são a pedagogia, a didática e a epistemologia. Esse ponto de discussão permite uma abordagem pertinente acerca das pesquisas no ensino mediado pelo computador. A ênfase, ao delimitar a problemática dos processos de ensino e aprendizagem, busca no computador uma característica importante no mesmo processo: o de ser um instrumental facilitador nas interações dos sujeitos entre si e deles entre o conhecimento produzido, bem como sua forma de captação e utilização pelos alunos.

Um software específico foi utilizado na pesquisa: o cabri-géomètrie, auxiliar no ensino de geometria elementar. Não se trata, evidentemente, da aprendizagem de línguas, mas da aprendizagem vista como algo mais amplo, que se fundamenta em relações específicas intersubjetivas. É o que a autora argumenta em seu resumo: “Pretende-se que as considerações feitas sobre um software sirvam de ponto de apoio para a reflexão sobre questões mais gerais relativas à utilização de programas educativos, principalmente tendo em vista a ampliação desta discussão, enfocando as relações entre conhecimento, cultura, tecnologia e sociedade” (BITTENCOURT, 1998, p. 1).

As discussões estabelecidas contribuem para os questionamentos – indispensáveis na pesquisa – acerca do uso do computador como ferramenta nos processos educativos que visem à libertação do sujeito.


ESPINOZA, L. M. G. El desplazamiento de prácticas impresas y la apropriación de prácticas digitlaes. Un estudio con alumnos del bachillerato tecnológico aprendiendo a usar la computadora en la escuela. Revista Brasileira de Educação. V. 11, n. 31, Rio de Janeiro, jan/abr. 2006.

No presente artigo, também utilizado à guisa de pesquisa, estão apresentados os resultados de um projeto de um projeto de pesquisa qualitativa centrado nas práticas de oito alunos do ensino médico que usam o computador. A abordagem utilizada é a sócio-cultural, a fim de analisar eventos alfabetizadores gravados em áudio e vídeo. Os resultados revelados pela autora estão em torno do que se constrói sobre as práticas de leitura e escrita.

A transformação (mudança) do material impresso em produção digital revelam, em justa medida, como as várias possibilidades de ler e escrever podem estar em um conjunto de ações que visem, em alguma análise, a contribuir para o formação de leitores críticos, versáteis, criativos e competentes.

O artigo apresentado contribui para a correlação entre a educação on line e sua consonância com os processos educacionais em voga no Brasil, por exemplo, cuja finalidade é contribuir para uma educação que fundamente as bases da democracia e da construção social. Nesse sentido da pesquisa, percebe-se que o ensino da língua não é mero instrumental de se compreender outra cultura e outras práticas, mas principalmente uma das abordagens possíveis para a transformação social que vê, na língua, a interação do sujeito com seu meio e o poder que lhe organiza as práticas. Quando a aprendizagem da língua se aproxima das relações de poder, a pesquisa demonstra que os processos – sejam quais forem as mediações – tenderá não a sufocar uma pedagogia emergente, mas a pressupô-la como norteadora de suas ações.

2 comments:

Valeska said...

Vocês levantaram várias referências bibliográficas e facilitaram nossa vida com os resumos. Obrigada e boa sorte no seminário.

Vera Menezes said...

O texto de Chapelle é muito bom e merece ser debatido.